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Utopia, o lugar que ainda não existe

No sábado dia 22 participei de uma conversa online a convite do Dudu Tsuda. O Dudu apresentou a performance ILHA, a vida é uma utopia, dentro do festival AVXLAB (https://www.youtube.com/watch?v=i2iV-8CjRz8) e me convidou pra integrar essa conversa com outras pessoas, artistas e pensadores. Algumas pessoas eu já conhecia como o Demétrio Portugal http://demetriocultura.net/ (idealizador do AVXLAB), o Lucas Bambozzi http://www.lucasbambozzi.net/ a Patrícia Moran e a Néle Azevedo, e outras não. Participou da conversa também o artista japonês Daisuke, direto do Japão e em outro fuso horário mas ao vivo. A conversa girou em torno das obras de ambos, Daisuke falou sobre uma obra sua que consistia em uma ação coletiva num espaço público, característica que as duas obras tinham em comum. Outra coisa que as obras mantinham proximidade: a discussão sobre a idéia de utopia, e suas possibilidades. Enfim, a conversa foi bastante interessante e acabei não me manifestando, apenas acompanhando meio como audiência embora o espaço para o diálogo estivesse aberto. Depois fiquei pensando sobre os temas e resolvi retomar esse blog com minhas reflexões. Tanto Dudu quanto Daisuke falaram sobre um retorno à natureza, Dudu falou sobre plantar brócolis, couve, Daisuke sobre plantar tomate, beringela. Dudu ecoou o pensamento do Ailton Krenak de trazer o futuro pro presente revivendo modos ancestrais e bem sucedidos de existência.

E foi isso que eu fiquei pensando, essa possibilidade de retomada da idéia de utopia. O Dudu me convidou para esta conversa justamente porque já havíamos conversado sobre essa questão. Minha impressão aqui nestes loucos anos 20 do século XXI é que os artistas forneceram para a sociedade durante muitas décadas todas as possibilidades de distopias que conseguiram imaginar. Talvez por questões de narrativa as distopias sempre pareceram mais atrativas do ponto de vista dramático do que uma utopia, onde tudo já está bem.

Ou talvez nós tenhamos naturalizado a encenação da tragédia justamente porque o sistema social vem se mantendo injusto para a maioria há tanto tempo que isso parece natural. De qualquer modo a ficção científica e a fantasia alimentaram o imaginário distópico da humanidade por décadas. Muitos artistas fizeram isso por motivos narrativos e imagino que poucos gostariam que suas distopias tivessem se realizado. No entanto as piores narrativas distópicas vem sendo realizadas uma por uma pelas corporações tecnológicas e por governos.

Já vivemos dentro de sistemas de controle total sobre as pessoas, sobre seus corpos e seu imaginário e isso acontece independente do sistema econômico ou social: capitalistas e comunistas controlam seus cidadãos usando recursos bem parecidos.

Existe uma estigmatização de classes e raças e uma estratificação social que é impressa e reimpressa no imaginário coletvo diariamente e é quase impossível de ser transposta. Existem até robôs potencialmente inteligentes planejados para fins militares e já em fase avançada de desenvolvimento. Os maiores bilionários atuais geram o seu valor controlando recursos tecnológicos e através destes controlam os recursos sociais, materiais, espaciais, controlam os recursos gerais. E se o recurso corre risco apóiam golpes em nações estrangeiras.

Por tudo isso e tudo o mais é necessário que voltemos a cultivar e espalhar as UTOPIAS. É preciso arrancar a utopia do lugar do impossível: muitos dos impossíveis já estão acontecendo, outros impossíveis melhores precisam entrar no imaginário das pessoas.

Estamos perdendo a capacidade social de imaginar um futuro melhor. As poucas iniciativas neste sentido são invisibilizadas ou estigmatizadas pela mídia corporativa (pense nos movimentos sociais que ocupam lugares abandonados e constróem vida dentro deles e mesmo assim são tratados como criminosos pela mídia corporativa).

Cabe a arte imaginar e deixar para o futuro propostas imaginárias de sociedades melhores. Se não é possível realizar as utopias no presente é preciso ainda ser possível imaginá-las e deixar mundos melhores para o futuro, nem que sejam mundos imaginários. No dia em que for impossível sequer imaginar um outro mundo possível e melhor é porque a arte já não existirá. O humano é essencialmente um ser criativo e enquanto a sociedade humana não for um bom lugar para todXs ainda é preciso continuar imaginando e criando possibilidades de utopias sociais, estéticas e econômicas.

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