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Software / Wetware / Freeware / Realware, Rudy Rucker

ATENÇÃO: A Resenha crítica a seguir contém SPOILERS dos livros

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Comecei a ler este livro, a Tetralogia de Rudy Rucker, no meu celular antigo um Nokia N97 com leitor de ebook. No terceiro volume, Freeware, eu comprei um celular novo e continuei a leitura do mesmo livro em outro app, outro formato. Depois ganhei um Kindle e terminei finalmente de ler o livro no aparelho da Amazon. Nunca vi nem peguei algum exemplar desse livro impresso, minha leitura dele foi totalmente digital.

De certa maneira essas várias encarnações do mesmo livro em diversos aparelhos reproduzem a trajetória do personagem principal, Cobb Anderson que passa as muitas páginas da complexa aventura terráqueo-lunar-espacial vivendo sucessivamente em vários corpos com seu software originalmente humano atravessando inúmeras incorporações antes de se desmaterializar em ondas.

Cobb é um ser humano, depois um robô (um clone robótico de si mesmo) depois é guardado dentro de uma imensa inteligência artificial, explode a si mesmo, ocupa um corpo robótico provisório, tem seu software guardado em um s-cube por décadas, ressucita em um corpo plástico inteligente, os moldies, robôs de 2050, e depois perde totalmente seu corpo virando apenas vibração de ondas com a codificação do seu software. Este é um dos pontos da saga: o software, a escrita da informação. O software podendo ser atualizado em corpo é de certa maneira imortal. Seria o equivalente da idéia de alma, algo anterior e que sobrevive ao corpo, à encarnação. Pode ser reencarnado.

Mas e a consciência? É a pergunta que todo mundo faria. Um novo exemplar não vai ser outra pessoa, apenas com as suas memórias? De onde vem a consciência, afinal? E Rudy Rucker responde com espiritualidade. A consciência é a mesma. É só você dar start em um ser com as suas memórias que este ser acessará não você que é pequeno mas a consciência, que é única e imortal, advinda da Luz. A mesma que você acessa agora e eu também e todo mundo. (Aqui entra uma longa discussão) Parece conversa de maluco e é isso mesmo e ainda mais com uma gang que come cérebros humanos como se come o de macacos, robôs rebelados na Lua. E depois dizimados pelos humanos quando surge uma nova forma de robôs que herda a memória, o software, da anterior mas agora tem um corpo plástico e remodelável instantaneamente à sua vontade. Basicamente os robôs viram uma massa de modelar capazes em se transformar em qualquer coisa. Se você tem idade pra lembrar disso, um barbapapa. Mas no livro sãos os moldies: um robô feito de algas e fungos e plástico. E software. E o software de Cobb encarna pela última vez em um destes moldies. Mas a saga de Rudy Rucker investiga não os efeitos da mudança de corpos e de uma potencial imortalidade em um ser humano mas a evolução da parceria simbiótica do ser humano com a inteligência robótica que ele mesmo desenvolveu. O livro explora, além das drogas pros humanos e pros robôs, o sexo entre ambos de diversas maneiras. O robô aqui é a realização de qualquer desejo, o objeto ideal. Uma vez que o robô de plástico pode adquirir qualquer forma ele entra em simbiose com o desejo do humano e se torna o gênio da lâmpada, pode fazer qualquer coisa.

Cobb Anderson cometeu um crime logo no início do século XXI: deu aos robôs a capacidade de evoluir e ganhar livre arbítrio. Substituindo as três leis de Asimov por outras que permitem e até obrigam a evolução constante das IA ele libertou os seres artificiais tornando os robôs não escravos e sim parceiros e com vontade própria. No primeiro volume os robôs fabricam na Lua os clones do órgãos que os humanos precisam para aumentar suas vidas. Há uma cidade na Lua criada e habitada apenas por robôs. Cobb é o responsável indireto por tudo isso e envelhece miseravelmente na Terra até que o primeiro robô criado por Cobb resolve ofecerer a ele a ‘imortalidade’. O que ele não sabe é que há uma guerra entre os grandes computadores que querem clonar e controlar todas as outras IAs e os pequenos boppers que pretendem manter sua individualidade e liberdade. Cobb entra na guerra meio sem querer e seu épico tem início. Ao longo dos quatro volumes a saga acompanha as intensas aventuras de Cobb este velho cientista derrotado e alcóolatra a quem é dada a imortalidade. Stahn Mooney é o outro pilar do futuro narrado no livro. Um drogadicto, jovem motorista de táxi e filho de um policial que junto com seus descendentes e os de Cobb ao longo das centenas de páginas ajudam a transformar os robôs transformando também sua interação com os humanos neste épico que é originário da primeira safra do universo cyberpunk original.

E eu que nunca tinha ouvido falar em Rudy Rucker o conheci graças a um tweet de William @GrealDismal Gibson celebrando o relançamento da quadrilogia. O primeiro livro é de 1982 e o último do ano 2000. Nestes 18 anos Rucy Rucker criou uma saga perfeitamente possível para os próximos passos de nossa relação com os robôs explorando conceitos como liberdade, consciência, espiritualidade (e os robôs também têm uma religião), robôs, clonagem, biorobôs e drogas, muitas drogas e de todos os tipos. O livro é um delírio de alterações possíveis de consciência com inúmeras drogas humanas e robóticas e seres alucinando sobre a realidade. Atualmente é tentador, ao menos para mim, enxergar Cobb Anderson no recém contratato pelo Google, Ray Kurzweil. Ele certamente deve ser fã dessa saga que investiga a inevitável existência das inteligências artificiais em convivência conosco.

Mais sobre o livro e download em inglês More about the book & for donwload PDF http://www.rudyrucker.com/wares/

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